O Professor Márcio Túlio Viana certamente já é conhecido por todos nós e especialmente pelos leitores do Clipping RTM. Aqui vamos apenas registrar, muito brevemente, o Currículo do querido professor mineiro.
Márcio Túlio possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (1972) e Doutorado em Direito também pela Universidade Federal de Minas Gerais (1994), instituição de ensino em que lecionou até se aposentar, em 2013.
Márcio Túlio é Pós-Doutor junto à Universidade de Roma I La Sapienza e à Universidade de Roma II Tor Vergata, importantes instituições em que fez muitos amigos e admiradores.
Foi Professor Associado da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi professor Adjunto IV da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atuando nos cursos de graduação, mestrado e doutorado.
Aposentou-se como desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 3º Região, órgão judicante em que atuou durante 22 anos. Antes disso foi Jornalista, fato que talvez poucos saibam. Foi também Promotor de Justiça no Estado de Minas Gerais e, por fim, Juiz do Trabalho no TRT da 3ª Região e Desembargador Federal do Trabalho.
Márcio Túlio é autor de centenas de artigos jurídicos, centenas de capítulos de livros e dezenas de livros publicados durante muitos anos.
Outra face importante da carreira de Márcio Túlio é a de Orientador. Mestre na acepção da palavra, ainda hoje o Professor é requisitado para orientações acadêmicas. Ao longo da vida já orientou centenas de alunos, desde a Graduação, passando pelo Mestrado até o Doutorado. Seus Orientandos o têm em altíssima conta, pois receberam o melhor da sapiência jurídica ao longo da formação de cada um.
ENTREVISTA, Prof. Dr. Márcio Túlio Viana.
O Clipping RTM pretende trazer, a cada semana, um entrevistado relevante para que possamos conhecer um pouco mais da figura de destaque, preferencialmente para além da sua vida acadêmica e profissional.
Como nós já conhecemos Márcio Túlio pelo seu perfil acadêmico e profissional, gostaríamos de saber um pouco mais de sua vida cotidiana.
Para comemorar nossa 1ª edição, que coincide com o Primeiro de Maio, vamos entrevistar Márcio Túlio Viana.
Clipping RTM:
Professor Márcio Túlio, queira por favor nos dizer, brevemente, como vai a vida. Onde o Sr. está morando, quantos filhos e netos tem, se está lecionando em algum lugar...?
Márcio Túlio Viana:
A vida vai bem, obrigado. Durante uns 12 anos, vivi em Poços de Caldas, uma bela cidade entre montanhas. Depois de perambular por outras cidades, inclusive a minha, Belo Horizonte, voltei para Poços com a minha mulher, Gina. E também há 12 anos. Tenho três lindas netas, dois lindos netos e uma bisnetinha. Desde há uns três anos estou lecionando na pós-graduação da UDF, de Brasília. Mas apenas em modo virtual. No mais, tento ler, pensar e me divertir. Entre as diversões está uma horta. Ela também me ajuda a manter a forma.
Clipping RTM:
Sobre o Primeiro de Maio, Professor, o que lhe ocorre de mais interessante para a classe trabalhadora brasileira?
Márcio Túlio Viana:
Estamos num tempo em que certas palavras passam por intensa censura. Somos ensinados a falar “todos, todas e todis”, e devemos até evitar o verbo “esclarecer”.
Pois bem. Apesar de alguns exageros, sei que essa pequena revolução pode ser útil na luta contra as discriminações. E valho-me da mesma onda para falar do 1º de maio.
Vejam só. No início, festejávamos essa data como um dia dos trabalhadores, no plural. Mais tarde, como o dia do trabalhador, no singular. Depois, como dia do trabalho, sem gênero. Hoje, como 1º de maio, sem nada.
Não sei se a sequência foi exatamente essa. Mas se não foi, penso que ela retrata mais ou menos o que aconteceu com a festa, e com a ideologia e as nossas utopias.
Como dia dos trabalhadores, no plural, a data os festejava não por estarem juntos, na linha de montagem, mas por estarem juntos contra a linha de montagem.
Já como dia do trabalhador, no singular, a data celebrava, no fundo, o indivíduo isolado e oprimido, como se ele fosse o contrário do que era.
Como dia do trabalho, a data ignorava – ou nos fazia ignorar – que embora os livros o descrevam como fator de dignidade, a prática desmente muitas vezes os livros.
Por fim, como 1º de maio, nós reduzimos aquele dia a um feriado, não muito diferente do 7 de setembro ou do 21 de abril, salvo um ou outro foguete, discurso ou canção sertaneja.
Pois bem. Eu diria que devemos tentar trocar a ideologia pela utopia, voltando a pensar no 1º de maio como dia dos trabalhadores. Mas sei que é muito difícil, embora tenha umas ideias sobre isso.
Clipping RTM:
Qual é a sua relação com o futebol? Gosta? Acompanha?
Márcio Túlio Viana:
Sou atleticano. E doente, como a minha mulher já diagnosticou. Talvez seja a única doença saudável que conheço. Já sofri muito com o Galo, quando perdemos disputas incríveis, mesmo com o nosso grande Rei. Mas também já tive grandes alegrias, inclusive nos tempos do nosso Rei. Num panorama geral, que vai do grande Dadá Beija Flor ao nosso incrível Hulk, passando pelo maestro Ronaldinho e por tantos outros – como Tardelli, Luan, Marques, Cerezo, Eder etc. etc. – posso dizer que o Galo tem me dado muito mais felicidade que tristeza.
Clipping RTM:
Aos finais de semana, qual tem sido, normalmente, a sua programação?
Márcio Túlio Viana:
Sábado, às vezes, passo um tempo no quintal, olhando os passarinhos enquanto leio um livro. Em geral é um livro que me faz pensar no Direito, mas sem falar dele - como a História Social da Arte ou mesmo a Vida das Formigas. Mas nas férias pode ser um romance histórico, do velho gênero capa e espada.
Também nos fins de semana, cuido de nossa horta, batendo enxada e plantando. Domingo cedo ainda corro uns 7 ou 8 km, mas em ritmo bem mais lento do que antes. No almoço, um pequeno restaurante e uma cervejinha. De tarde, quase sempre, jogo do Galo, e uma boa soneca. De noite, um filme ou uma série.
Clipping RTM:
Conte-nos um pouquinho da sua experiência italiana. Você lecionou na Itália? O ensino jurídico lá é muito diferente daquele que temos no Brasil?
Márcio Túlio Viana:
Foram quase três anos, intercalados. Em geral, comprava um livro e ia para um parque, onde ficava quase o dia inteiro; às vezes, no verão, até almoçava entre as árvores. Esse estudo era bem devagar, pensando e olhando a paisagem, e anotando no livro as conclusões. Raras vezes ia a bibliotecas ou faculdades. Naquele tempo, tinha a pretensão maluca de ligar a evolução do trabalho humano com as coisas que giram em torno dele – como a música, a dança, as outras artes, os modos de sentir e de viver. Mas com o tempo fui percebendo não só as minhas imensas limitações, em termos de cultura, como os meus problemas de memória. Precisaria de muitas vidas – e talvez nem isso adiantaria, pois segundo minha sogra, que é espírita, não nos lembramos do que já aconteceu. Ainda assim, foram estudos que me ajudaram muito a pensar, a lecionar e a escrever. Dei algumas aulas na Roma II, com o querido amigo Prof. Perone, e fiz umas palestras em congressos e outras escolas.
Clipping RTM:
Por fim, nos diga, Professor, quais são os planos para os próximos anos?
Márcio Túlio Viana:
Tenho 78 anos. Se chegar aos 80, talvez pare de lecionar. Mas não tenho certeza ainda. Talvez voltar a pescar. Se tiver condições, quem sabe? Talvez uma casinha na Itália. E cuidar da saúde. No mais, gostaria de seguir assim.
Muito obrigado!